Não saberia definir á que horas daquela noite conseguimos dormir. Sei que por muito tempo fiquei ao lado de Nando observando-o dormir, e medindo com a ponta de meus dedos cada milímetro do seu corpo perfeito. Acordamos próximo ao meio dia do domingo.
Nando colocou os braços para cima da cabeça espremendo-se e contorcendo sensualmente o corpo na tentativa de espantar a preguiça. Abriu-se um sorriso irresistível em sua boca incrível e perfeita, no
mesmo instante que uma mecha de seu cabelo cacheado descia cobrindo seus olhos verdes. O sorriso de Nando era só uma pequena porcentagem do seu charme. Qualquer que fosse a expressão em sua fisionomia, ele era um arraso. Arraso de homem. Meu tipo de homem.
- O tempo está gostoso lá fora. – Disse sem que eu pudesse definir, se era afirmação ou indagação. – Posso ficar aqui este fim de semana e aproveitar a tranquilidade do lugar?
- Depois de ter sido incrível esta noite? Pode aproveitar da tranquilidade e de tudo que mais quiser. – Isso eu disse afirmando categoricamente.
- Quero tomar um banho naquele lago, juntinho de você. – Sussurrou em meu ouvido no mesmo instante que o espaço que havia entre nós sumiu, e nos beijamos.
Sua voz veio suave com aquele toque de taquara rachada, característico na transição de mudança do menino para o adolescente.Entrou pelos meus ouvidos como música da Legião Urbana, minha banda favorita. Aliás, sempre me considerei fã numero um do Renato Russo. Fã enlouquecido, pois na parede do meu quarto havia um quadro emoldurado, com todos os ingressos dos shows o qual estive presente. E não eram poucos.
Agora me tornara fã do Nando e de tudo que dissesse respeito a ele.O magnetismo poderoso que exalava dele, me hipnotizou colocando-me de quatro em seu encalço. Uma mistura de ciúmes, possessão e loucura estavam dominando meu coração e razão, fazendo-me reagir somente pelo instinto.
Nada que pudesse acontecer a partir daquele exato ponto poderia ligar meus sentidos de alerta. O que poderia ser minha ruína.
Depois de um gostoso café na cama o puxei para o banho. Foi o banho que mais me deixou limpo em todos os sentidos. Gozei gostoso na massagem que aquelas mãos experientes fizeram em meu pau.
De volta ao quarto perguntei sobre sua bagagem.
- Sua mochila? Deixou onde? Não a vi por aqui. – Fiz a pergunta sem a real intenção de saber.
- Hã? Mochila? – Respondeu sem nenhuma intenção de contar.
Usou o poder de seu olhar penetrante, que chamava ao sexo, para me tirar a atenção da questão.Ele já percebera o efeito que estava causando em mim. Sentia-me atraído por aquele macho, como se houvesse um cabo de aço envolto em minha cintura puxando em sua direção, sem sequer me dar à mínima chance de fuga. Eu estava amando estar com ele, que parecia também apreciar minha companhia.
Durante toda tarde passamos na cama fazendo carinho um no outro e conversando sobre vários assuntos, mas nenhum referente á sua pessoa ou quem era ou de onde viera e o que exatamente queria. Somente quando a fome apertou foi que me lembrei, de fazer algo para comer-mos. Sempre fui um apaixonado pela culinária, mas não pelo trivial. Toda vez que tive a oportunidade de cozinhar, inventava coisas com os ingredientes e temperos disponíveis na cozinha da vovó, que não eram poucos,e sempre arranquei elogios das pessoas que experimentavam minha gororoba. E nessa ocasião eu tinha um motivo especial para caprichar, e não poupei habilidades na confecção da gororoba, enquanto Nando só de cueca, esticado no sofá da sala assistia interessado uma reportagem de plantão extraordinário.
Entre um corte de cebola e o descascar de cenoura eu ouvia o som da TV, era algo sobre um assalto á banco que Nando escutava, mas não dei importância. Logo o jantar ficou pronto e o chamei para a mesa. Eu me sentia tão feliz e seguro dentro de minha casa,um lugar onde ninguém poderia entrar para me ferir ou prejudicar.
- Diga algo da minha gororoba? Fiz especialmente pra você. – Perguntei com receio de escutar uma critica não construtiva.
- Não está tão ruim, ou eu é que estou varado da fome. – Respondeu sem tirar os olhos do prato. Depois se calou.
- Tenho a impressão de que algo. Posso saber o que é?
- Sabe aquele assalto da TV? – Olhou-me nos olhos e segurou meu braço.
Um arrepio correu-me pela nuca e meus batimentos cardíacos dispararam quando ele me tocou. Como se eu já sentisse o que vinha em seguida.
- Então... Fui eu que orquestrei. – Expressou-se num tom seco.
Senti-me descontrolado enquanto ele parecia super tranquilo. De alguma forma eu sabia que ele não estava brincando,tive uma sensação de déjà vu. O medo tinha me roubado completamente o apetite.
- Não quero saber nada disso. – O Interrompi sem saber como colocar as palavras, dando mais uma garfada na gororoba.
Ficou calado por um momento, mas quando falou a voz saiu tranquila.
- Sou um assaltante, não um assassino. – Falou percebendo minha reação, e concentrou-se no prato em sua frente.
Meu cérebro lutava para voltar a funcionar como antes.
- Continuo a me sentir seguro ao seu lado. – Falei tentando colocar tranquilidade no tom de voz.Forçando o máximo para acreditar naquilo que saía da minha boca.
Olhou-me como se tivesse buscando algum tipo de confirmação.
- Não precisa ficar com medo. Desde a primeira vez que te vi senti uma atração. – Agora mantinha os braços ao lado do prato apontados em direção á mim. – Não imaginei que sentiria o que sinto por você hoje. – Falava olhando dentro dos meus olhos.
- O que sente por mim hoje? – Perguntei demonstrando real interesse na sua resposta.
- Não sei explicar ao certo. Mas sei que o protegeria de qualquer mal que viesse acontecer a você. Deixe-me proteger você?
- Se é isso que você quer, é isso que eu quero também. – Meu coração já voltava no seu compasso normal.
- Já deu uma olhada lá fora? O tempo está uma merda.
Um céu carregado e agourento se apresentava lá fora. A moça da TV tinha dito que haveria chuva naquela noite. Não consegui tomar banho com Nando, por mais que ele insistisse, permaneci na cama remoendo cada palavra escutada á mesa, até que ele entrou no quarto. Tentei de todas as formas manter minha tranquilidade, mas não estava conseguindo. Quando Nando percebeu, tentou-me tranquilizar convidando para fazer um sexo relaxante como na noite anterior.
- Você é muito ingênuo sabia? – Calmamente apertava os dedos na palma das mãos.
- Porque diz isso?
- Por que tudo que eu disse foi só uma brincadeira. – E soltou uma gargalhada gostosa, enquanto lá fora, a chuva desabava fazendo barulho no telhado.
De alguma forma assumi aquilo como verdade e não questionei mais nada. Rolei para cima de Nando, já lhe tascando um beijo apaixonado.
O sexo que fizemos durante a noite foi ainda melhor do que antes. Acordei na segunda feira com um sorriso bobo na cara, sabendo que tinha gozado três vezes. Nando já tinha levantado, tomado banho e me aguardava na sala, sentado no sofá. Uma mochila estufada ao seu lado.
- É ai que está o dinheiro do assalto? – Perguntei num tom de brincadeira.
- Está todo aqui. – Entre um meio sorriso olhando-me de canto com a cabeça meio arqueada. – Eu tenho que ir agora, mas prometo que volto logo. Não vou esquecer que ainda não tomamos aquele banho no lago.– Abriu um leve sorriso no rosto quase coberto pelo cabelo encaracolado. Puxou o capuz da jaqueta sobre a cabeça. – Feliz aniversário! – Foi a ultima coisa que escutei de Nando, não saberia dizer por quanto tempo.
Depois de um beijo demorado Nando saiu pela porta em direção ao portão da frente. Despediu-se com um aceno de mão, e sumiu no final da estrada sem olhar para trás. Fiquei parado no portão por um longo momento observando-o sumir, lembrando de sua promessa. “Volto logo”.
SEGUNDA TEMPORADA.
Seis meses passaram desde que Nando sumiu no final da estrada. Neste tempo a herança que meus avos deixaram, foi liberada.
A primeira coisa que fiz?
Foi...
Fonte: Debraga